quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para Refletir

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
Luís Fernando Veríssimo
A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.
Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mães Judias

Diz que quatro mães judias se encontraram no céu. Como não podia deixar de ser, a conversa toda é sobre os filhos.
- Não posso me queixar - diz a primeira. - Meu filho, até hoje, só me deu felicidade. Um santo. E na Terra, por causa dele, todo mundo só fala em caridade, em virtude, em bons sentimentos.
- Seu filho é. . . ? - pergunta a segunda.
- Jesus Cristo! - diz a primeira. E, inclinando-se para frente, em tom confidencial e com um gesto que indica tudo em volta: - O dono disto aqui.
- Não é do pai dele?
- Bem. . . É da família.
Agora, alegria, alegria, quem me dá é o meu filho - diz a Segunda mãe. - Ach, como eu me orgulho dele. Na Terra, por casa dele, todo mundo só fala em justiça, em mudanças sociais, em solidariedade humana.
- Como é o nome dele?
- Karl. Karl Marx.
- Hmmm - fazem as outras, apertando a boca.
- O Shnuga - suspira a mãe de Marx, lembrando o seu apelido de bebê.
- E o meu filho? - diz a terceira - Um professor. Este sim é para uma mãe se orgulhar. Inteligeeeeeente! Um crânio. Na Terra, por causa dele, todo mundo só fala no Universo, na relatividade, nos buracos negros. . .
- Quem é ele?
- O Beto.
- Beto?
- Einstein.
- Ah.
Falta falar a quarta mãe e as outras três se viram para ela.
- Eu nem quero falar porque vocês vão ficar com inveja de mim - diz ela.
- Fala.
- Que filho!
- Quem é?
- Um doutor.
- O que foi que ele fez?
- Por causa dele, na Terra, todo mundo só fala na mãe.
E a mãe de Freud fica sorrindo, deixando-se admirar pelas outras três.
Filho era aquele!
(Luís Fernando Veríssimo)

sábado, 25 de abril de 2009

Exagero

Confesso-me um urbano convicto. Tenho, como todo mundo, visões idílicas de uma vida suburbana, árvores no quintal e amigos passarinhos, mas isto não deve ser confundido com qualquer tipo de nostalgia do mato. Suburbano significa nos arredores do urbano, com água corrente e cinema perto. Sou a favor da civilização, com todos os seus descontentamentos. As pessoas que defendem o pastoral e a volta ao primitivo nunca se lembram, nas suas rapsódias à vida rústica, dos insetos. Sempre que ouço alguém descrever, extasiado, as delícias de um acampamento – ah, dormir no chão, fazer fogo com gravetos e ir ao banheiro atrás do arbusto – me espanto um pouco mais com a variedade humana. Somos todos da mesma espécie, mas o que horroriza alguns encanta outros. Pois sou dos horrorizados com a privação deliberada. Muitas gerações contribuíram com seu sacrifício e seu engenho para que eu não precisasse fazer mais nada atrás do arbusto. Me sentiria um ingrato fazendo. E a verdade é que, mesmo para quem não tem os meus preconceitos, as delícias do primitivo nunca são exatamente como as descrevem. Aquela legendária casa à beira de uma praia escondida onde a civilização ainda não chegou e tudo, portanto, é puro e bom não existe. Ou, se existe, não é bem assim.
– Você precisa ver. Um paraiso. Não há nem um armazém por perto.
Quer dizer, não há acesso à aspirina, fósforos ou qualquer tipo de leitura. Salvo, talvez, a metade de uma revista Cigarra de 1948. A pior metade.
– A gente dorme ouvindo o barulho do mar. . .
E do vento entrando pelas frestas. E de animais terrestres e anfíbios tentando entrar na casa para pegar o seu pé. E, se pegar, você morre. O antibiótico mais próximo fica a cem quilômetros.
Não. Fico na cidade. A máxima concessão que faço ao natural são as bermudas. E, assim mesmo, longas. Muito curtas já é um começo de volta à selva.
Mas é claro que há o exagero no outro sentido.
A humanidade, ou pelo menos a parcela que se beneficia dos avanços da técnica e dos confortos que ela proporciona, se acostuma muito rapidamente com o que tem. Imagino que não demorou muito depois de descobrirem como fazer fogo para que alguém exclamasse: ”Não entendo como alguém podia viver sem fogo!” Era inconcebível que durante algumas gerações, nossos antepassados tivessem vivido sem calor e sem carne assada. A mesma coisa com a roda. Como é que vivíamos sem a roda, meu Deus? E o vapor? E a luz elétrica? E o telefone? Como é que as pessoas, enfim, se telefonavam, quando não existia o telefone? E radinho de pilha? Acredite ou não, houve um tempo em que as pessoas iam ao futebol sem rádios. Mesmo quando já existiam rádios, eram grandes e pesados e precisavam ficar ligados na tomada. Para levar ao futebol, só com um fio muito comprido. E como sabiam se estavam gostando ou não do jogo, sem ouvir os comentaristas?
A televisão tem o quê? Cinquenta anos de idade. E já tem gente que se refere à época antes da televisão como a pré-história, um tempo tão remoto e difícil de visualizar quanto o tempo das cavernas. O que é que todos faziam antes de ter televisão em casa? Conversavam? Liam? Ou faziam alguma outra coisa esquisita?
Mas, outro dia, ouvi uma frase que me revoltou, dita por alguém atirado numa poltrona na frente da TV.
– Como é que as pessoas viviam sem controle remoto?
Este merecia ser jogado no mato, nu e com um tacape, para ver o que era bom e começar tudo de novo. Se não fosse meu filho eu jogava.

(Luís Fernando Veríssimo)